quarta-feira, março 21, 2007

Quando fomos para a cama


Os resíduos de estrela que ficaram entre os seus cabelos
crocitavam como cascas de amendoins
a estrela cuja luz tu descobriste
há um milhão de anos já
no mesmo instante em que era dado à luz
um diminuto menino chinês.

«Os chinas são os únicos que não temem
os fantasmas
que nos saem da pele todas as noites.»

Lástima é que a estrela
não tivesse sabido fecundar teu seio
e que o pássaro da lamparina de azeite
a bicasse como casca de amendoim

o teu e o meu olhar
deixaram-te no ventre
um signo futuro de luminosa multiplicação.

Luis Buñuel, "Poemas", 1977
* Foto de Ricardo André Alves