Quando fomos para a cama
Os resíduos de estrela que ficaram entre os seus cabelos
crocitavam como cascas de amendoins
a estrela cuja luz tu descobriste
há um milhão de anos já
no mesmo instante em que era dado à luz
um diminuto menino chinês.
«Os chinas são os únicos que não temem
os fantasmas
que nos saem da pele todas as noites.»
Lástima é que a estrela
não tivesse sabido fecundar teu seio
e que o pássaro da lamparina de azeite
a bicasse como casca de amendoim
o teu e o meu olhar
deixaram-te no ventre
um signo futuro de luminosa multiplicação.
Luis Buñuel, "Poemas", 1977
* Foto de Ricardo André Alves
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