Enquanto os anjos dormem
“Voam secretas, rumo a encontros de amor adiado nos cafés de Outono.
Escrevem para enxotar o tédio.
Escrevem nas revistas desinteressadas de um consultório médico, nos bilhetes de autocarro, nas folhas de mais um dia a arquivar.
E são tímidas e passionais.
Vestais brancas e seladas, nunca ninguém lhes fez amor.
Anjos de coxas fúteis, meras páginas para adornar a solitude.
Gostariam de ser violadas ninfas, invocando o nome de lobos ou amantes, tanto faz. Noivas de negro, algumas adoptaram máquinas de amor a pilhas.
Outras são neuróticas. Desenganadas. Mortas com doses de comprimidos fora de prazo.
Estúpidas de culpa.
Embalando a noite em risos que ainda ecoam pela rua, longo tempo depois de já nada sobrar delas.”
Escrevem para enxotar o tédio.
Escrevem nas revistas desinteressadas de um consultório médico, nos bilhetes de autocarro, nas folhas de mais um dia a arquivar.
E são tímidas e passionais.
Vestais brancas e seladas, nunca ninguém lhes fez amor.
Anjos de coxas fúteis, meras páginas para adornar a solitude.
Gostariam de ser violadas ninfas, invocando o nome de lobos ou amantes, tanto faz. Noivas de negro, algumas adoptaram máquinas de amor a pilhas.
Outras são neuróticas. Desenganadas. Mortas com doses de comprimidos fora de prazo.
Estúpidas de culpa.
Embalando a noite em risos que ainda ecoam pela rua, longo tempo depois de já nada sobrar delas.”
João de Mancelos. “Línguas de Fogo”, 2004.
2 Comments:
Lindo! :)
É um texto sensível e poderoso ao mesmo tempo. Muito bem escrito.
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