Horto
Homens cegos procuram a visão do amor
onde os dias ergueram esta parede
intransponível
Caminham vergados no zumbido dos ventos
com os braços erguidos – cantam
A linha do horizonte é uma lâmina
corta os cabelos dos meteoros – corta
as faces dos homens que espreitam para o palco
nocturno das invisíveis cidades
Escorre uma linfa prateada para o coração dos cegos
e o sono atormenta-os com os seus sonhos vazios
Adormecem sempre
antes que a cinza dos olhos arda
e se disperse
No fundo do muito longe ouve-se
um lamento escuro
quando a alba se levanta de novo no horto
dos incêndios
Prosseguem caminho
com a voz atada por uma corda de lírios
Os cegos
são o corpo de um fogo lento – uma sarça
que se acende subitamente por dentro
Al Berto, “Horto de Incêndio”
* Foto de Elektrische
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