quinta-feira, dezembro 10, 2009

Pablo e a chuva


“Eu andava á procura de um sítio sossegado para morrer” – estas foram as palavras que comecei a escrever na primeira e última carta para Pablo. Nunca cheguei a terminar. As lágrimas caíam no papel e manchavam a tinta. Depois disso, nunca tinha coragem para encarar o papel em branco.
Hoje acordei com o barulho da chuva. Definitivamente, odeio a chuva. Este tempo cinzento deprime-me, amargura-me, irrita-me. São 9 da manhã, tenho de ir trabalhar e não me apetece atravessar a chuva que cai, até chegar á estação de comboios. Saio do prédio e paro debaixo das varandas, na esperança que se dê um milagre e a chuva cesse. Já passaram cinco segundos e não aconteceu nada. A chuva cai tanta e com tal força, que as ruas se transformaram em rios impossíveis de navegar. Nestes momentos, lembro-me sempre de Pablo, das suas canções de amor e da caixa de fósforos que me ofereceu no dia em que nos conhecemos. Pablo era uma das minhas melhores recordações. Conhecera-o no México, numa das minhas inúmeras viagens e foi amor á primeira vista. Pablo cantava músicas mexicanas num bar local e tinha a voz mais melodiosa e romântica que já alguma vez ouvira. Os seus olhos eram negros e brilhantes, o seu cabelo era longo e ondulado e as suas mãos eram perfeitas, como que desenhadas. Hoje, tenho apenas as cartas. Essas cartas que Pablo me enviou todos os meses, às quais eu nunca respondi, porque nunca encontrei as palavras certas.
* Foto retirada da Internet