Flores e Lâminas
Sabia que já nada havia a fazer. Restava-lhe apenas lamber
as feridas e partir. Sairia dali com pouca bagagem: meia dúzia de livros de
poemas, um disco da Kate Bush da sua coleção de clássicos e uma ou duas peças
de roupa. Nada mais. Não deixaria marcas. Não haveria despedidas. Já tudo tinha
sido dito, vivido e sentido. Já se tinham esgotado todas as mentiras, todas as
razões, todas as dúvidas. Todos os gestos eram agora inúteis, todas as palavras
eram já objetos cortantes. Olhou uma última vez para a casa em silêncio antes
de sair: já não sentia a brisa fresca do Verão no rosto e o Amor tinha por fim
encontrado o seu caminho de flores e de lâminas.
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