quinta-feira, novembro 11, 2010

Sobre os Casamentos


Olho pela janela e já não há sol. A noite apoderou-se do espaço e eu nem me dei conta. Estou sentada a uma mesa de toalha bordada, como a festa impõe. Os copos de cristal, de vários tamanhos recebem os líquidos festivos e reflectem a luz do candeeiro imponente que, do alto do tecto, parece estar prestes a cair em cima da minha cabeça. As mesas estão dispostas numa forma geométrica desconhecida (entre um rectângulo e um círculo) e os convidados, deliciados com as fartas variedades culinárias, descansam os pés mastigados pelos sapatos de festa, contam histórias felizes e acontecimentos trágicos e mexem-se incessantemente nas cadeiras, ajeitando as suas fatiotas incómodas e engalanadas. Os noivos passeiam de mesa em mesa, por entre beijos de encomenda e brindes com discurso: a noiva, branca e leve como uma nuvem, os olhos negros tão brilhantes como a aliança de ouro que lhe enfeita a mão esquerda; o noivo, encaixado no seu fato escuro, espalhando abraços e apertos de mão, partilhando piadas de teor alcoólico.
Ouve-se uma música ao fundo, abafada pelos risos e conversas e eu tenho os olhos fixos no centro de mesa com flores brancas. O meu aborrecimento é óbvio, quase palpável. Olho para o relógio e imagino os locais interessantes onde poderia estar, não fosse este casamento. Já passaram muitas horas desde que saí de casa com o vestido novo, a maquilhagem feita á pressa, o cabelo liso e perfumado e os pés enfiados nuns sapatos demasiado estreitos para usar durante um dia inteiro.
O primeiro sacrifício é a cerimónia religiosa. Cumprir todos os rituais eclesiásticos associados á missa é um massacre. Durante mais de uma hora, o Padre disserta sobre a importância do Amor e do Casamento. Nós temos de ouvir o sermão em completo silêncio, levantar e sentar nos momentos certos da celebração e acompanhar o sacerdote nas orações, dizendo em uníssono palavras de fé, que toda a gente parece conhecer, menos eu.
Seguem-se as fotografias. Não há nada pior do que tirar fotografias por obrigação, ter de esperar pelo momento certo para posar junto dos noivos, já com o penteado desfeito, o sorriso amarelo e o estômago a dar horas.
No fim, restam-me as sobremesas. O pão-de-ló com ameixas de Elvas, a mousse de chocolate com amêndoas, o pudim de ovos com caramelo, a tarte de limão merengada. São as únicas coisas que ainda me animam.
* Foto retirada da Internet