sexta-feira, janeiro 07, 2011

A Flor e a Náusea


Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a policia, e rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe. Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
E lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.

É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo, e o ódio.


Carlos Drummond de Andrade


* Foto retirada da Internet

2 Comments:

Blogger tempus fugit à pressa said...

É feia. (relativo se a vida é feia a ausência dela no asfalto devia ser bela

Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo, e o ódio

o conceito urbano de que a natureza é bela e o artificialismo urbano
é repetitivo e estéril

Drummondidades

11:50 da tarde  
Blogger Paulo Padrão said...

Olha, que legal!

Parece que você também gosta de línguas estrangeiras, música e poesia.

Bem, eu é que não gosto de Drummond.

Você conhece Casimiro de Abreu?

12:54 da manhã  

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