quarta-feira, janeiro 24, 2007

Céu, mar e gente


“Talvez o céu seja um mar grande de água doce e talvez a gente não ande debaixo do céu mas em cima dele; talvez a gente veja as coisas ao contrário e a terra seja como um céu e quando a gente morre, talvez a gente caia e se afunde no céu”.

José Luis Peixoto, "Nenhum Olhar"

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Alguns outros, pensando em Al Berto


Alguns lambem as feridas,
outros amam a céu aberto.
Alguns vão, de braço dado com o vento,
outros vivem nos quartos alugados
da esperança.
Alguns adormecem, em línguas de fogo,
outros dançam à noite com estranhas.
Alguns escrevem para lembrar ítaca,
outros esqueceram o mapa de si.
Alguns ficam. os melhores partem.
batendo em corações de lata,
e bebendo a noite em cada beijo.

João de Mancelos, “Línguas de fogo”, 2001

terça-feira, janeiro 16, 2007

Coma


Olho-te no exacto momento
Em que a tua visão abarca o infinito.
Observo o teu perfil austero e seguro,
Perfeito de formas e conteúdo
e ouço-te falar num dialecto estranho
cujos vocábulos eu não descodifico.
Sinto-te mover o corpo na escuridão
e no meu silêncio absoluto suporto o teu peso.

A multidão dorme em coma profundo,
enquanto ouço a nossa respiração lenta
e o coração em batida frenética.

* Foto de Sollena



Sentimentos Fraude


Enumero os teus defeitos,
um por um,
e tento decorá-los, repetindo-os em voz alta.
Questiono as tuas falhas de carácter,
os teus comportamentos absurdos
e os teus sentimentos fraude.
Aponto numa folha de papel
Os teus e os meus piores momentos.
Apesar da mentira, continuo
à espera dos teus movimentos

e a beijar a tua fotografia.
* Foto de Gonçalo Borges Dias

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Calar o medo


Calar o medo que grita,
tapar-lhe a boca pérfida,
sufocar-lhe a vontade mórbida
de me rasgar as entranhas.

Pelo menos desta vez,
fechar-lhe a porta na cara.

E secar as lágrimas.