quinta-feira, outubro 27, 2011

O Silêncio e os Corvos

Estranho o som da minha voz quando o silêncio sobra nas paredes da minha casa.
A noite projecta sombras no meu corpo vago e a bruma enche-me os olhos
de névoa e cinza.
Tenho as mãos quebradas sob o teu peso etéreo,
o sono interrompido por voos de aves nocturnas,
a boca perdida em beijos antigos.
Lá fora ouço vozes que chamam, homens que choram, palavras que mutilam.
Anestesiam-se corações moribundos. E todos os fogos já estão extintos.
Lá fora nada resiste a não ser o tempo.
E o silêncio.
E os corvos.

* Foto retirada da Internet

quinta-feira, outubro 06, 2011

Se eu pudesse iluminar por dentro as palavras




Se eu pudesse iluminar por dentro as palavras de todos os dias
para te dizer, com a simplicidade do bater do coração,
que afinal ao pé de ti apenas sinto as mãos mais frias
e esta ternura dos olhos que se dão.

Nem asas, nem estrelas, nem flores sem chão
- mas o desejo de ser a noite que me guias
e baixinho ao bafo da tua respiração
contar-te todas as minhas covardias.

Ao pé de ti não me apetece ser herói
mas abrir-te mais o abismo que me dói
nos cardos deste sol de morte viva.

Ser como sou e ver-te como és:
dois bichos de suor com sombra aos pés.
Complicações de luas e saliva.


José Gomes Ferreira




*Imagem retirada da Internet