sexta-feira, outubro 27, 2006

Dias Perfeitos


Tens o coração pegajoso
envolto em papel de embrulho
e a boca sedenta
dos beijos que imaginaste
Nas noites frias

Tens as mãos trémulas
algemadas com fios de prata
e o corpo perdido
em convulsões febris
Nos dias intermináveis

Tens o Amor contagiante
á solta na ponta dos dedos
e a Alma fugitiva
em voos longíquos
Nas tardes de Verão

Tens os braços à minha volta
num abraço eterno
e os teus lábios curiosos
presos à minha boca húmida
Nos dias perfeitos


Strange but True



Ok let me say this quick
before I start to cry
you're the only one that I gave it to,
the one I fantasized for
and time away from you has taught me
what I've should have known -
that this hole I'm trying to fill with another It's grown
And I got your package,
but when I tried to write you back I bailed
see, trying to express the future,
sometimes language fails
and over this time I've learned
my life force is increased by knowing you.
Every door that closes, another one opens
Sad but true.

PRINCE, "Rave unto the Joy fantastic", 1999

quinta-feira, outubro 26, 2006

Jammaica Inn


Can you patch my jeans Peggy Ann
–just a little stitch to mend the hole
he has torn if you can
Maybe I got too set in my way
she says she reminds him of me when we first met in those early days…
The sexiest thing is trust
I wake up to find the pirates have come
tying up along your coast how was I to know the pirates have come
between Rebecca’s beneath your firmaments I have worshipped in the Jamaica Inn
With the gales my little boat was tossed
how was I to know that you’d sent her with a lantern to bring me in
“Are you positive this is a friend?”The captain grimaced,
“Those are cliffs of rock ahead
if I’m not mistaken.”


Tori Amos, “The Beekeeper”, 2004

Íntimo


Choram as paredes
porque nos conhecem

Também
quem além delas
sabe o peso
e a cor dos nossos olhos

Tanto o escuro
e a distância


José Vultos Sequeira, “A Cor dos Olhos”


* Foto de Longing 4 what used to be

Nem sempre o corpo se parece

Nem sempre o corpo se parece com um bosque,
nem sempre o sol atravessa o vidro,
ou um melro cante na neve.
Há um modo de olhar vindo do deserto,
mirrado sopro de folhas,
de lábios, digo.


Eugénio de Andrade, "O peso da sombra"

terça-feira, outubro 24, 2006

A Invisibilidade de Deus


Dizem que em sua boca se realiza a flor,
outros afirmam:
a sua invisibilidade é aparente.
Mas nunca toquei Deus nesta escama de peixe,
onde podemos compreender todos os oceanos.
Nunca tive a visão de sua bondosa mão.
O certo é que por vezes morremos magros até ao osso sem amparo e sem Deus,
apenas um rosto muito belo surge etéreo na vasta insónia que nos isolou do mundo
e sorri dizendo que nos amou algumas vezes.
Mas não é o rosto de Deus nem o teu nem aquele outro que durante anos permaneceu ausente
e o tempo revelou não ser o meu


Al-Berto, "O Medo"

* Foto de Tom for president

Horroris Causa


No fim doce da noite.
No limite familiar da
próxima dor –
Seremos doutorados
Horroris causa.
Pelo fogo – no caos.
Pela chuva – na mentira.

Os nosso curriculuns mortiis
serão enviados
em envelopes amaldiçoados.
Em todas as casas seremos
sementes e armadilhas de cristal.
Entretendo famílias inteiras
em refeições de carne vermelha,
em provas de vinhos malditos.
Com fome e sede
do Mal.


Fernando Ribeiro “Como escavar um Abismo”


* Desenho de Luis Royo

We held hands on the last night on earth


"We held hands on the last night on earth. Our mouths filled with dust, we kissed in the fields and under trees, screaming like dogs, bleeding dark into the leaves.
It was empty on the edge of town but we knew everyone floated along the bottom of the river. So we walked through the waste where the road curved into the sea and the shattered seasons lay, and the bitter smell of burning was on you like a disease.
In our cancer of passion you said: “Death is a midnight runner”.
The sky had come crashing down like the news of an intimate suicide. We picked up the shards and formed them into shapes of stars that wore like an antique wedding dress. The echoes of the past broke the hearts of the unborn as the ferris wheel silently slowed to a stop. The few insects skittered away in hopes of a better pastime.
I kissed you at the apex of the maelstrom and asked if you would accompany me in a quick fall but you made me realise that my ticket wasn’t good for two. I rode alone. You said: “The cinders are falling like snow”.
There is poetry in despair, and we sang with unrivalled beauty, bitter elegies of savagery and eloquence. Of blue and grey.
Strange, we ran down desperate streets and carved our names in the flesh of the city. The sun has stagnated somewhere beyond the rim of the horizon and the darkness is a mystery of curves and lines.
Still, we lay under the emptiness and drifted slowly outward, and somewhere in the wilderness we found salvation scratched into the earth like a message".



A Fire Inside (AFI), “Sing the Sorrow”

quarta-feira, outubro 11, 2006

Quando me tocas


Quando me falas
Nem sempre respondo,
nem sempre encontro as palavras certas,
aquelas que te quis dizer desde sempre.

Por vezes já não tenho voz,
Porque a perdi no cansaço.

Quando me olhas
Nem sempre te entendo,
Nem sempre te mostro a verdade,
Aquela que tenho vontade que saibas.

Por vezes não tenho Alma,
Porque já se gastou em lágrimas.

Quando me procuras
Nem sempre acredito,
Quase sempre tenho medo que tudo não passe de um sonho,
E que amanhã tudo seja diferente.

Por vezes já não tenho esperança
Porque estou confusa.

Quando me tocas
Nem sempre retribuo,
Nunca procuro a tua boca nem as tuas mãos,
Como é sempre meu desejo.

Por vezes não tenho corpo
Porque tu não me sentes.

Por vezes falta-me o tempo que é preciso
Para te esquecer.


(Ao C.)

* Foto de Gwarf

Vulnerável


Vejo-te hoje de forma diferente, sem máscara
E com as mãos vulneráveis.
Sinto hoje a tua fragilidade na minha pele, respiro com dificuldade
Nos momentos em que perdes a força.

Hoje tens o coração exposto e lágrimas nos olhos, como todos os homens.

Esta noite, enquanto te observo os movimentos grandiosos e escuto os teus gritos,
Sou mais uma vez aquela criança de há muitos anos, amando-te em segredo,
Deslumbrada com a visão perfeita.


(Ao F.)

* Desenho de CorruptJelly