segunda-feira, fevereiro 19, 2007
sexta-feira, fevereiro 16, 2007
quinta-feira, fevereiro 01, 2007
A manhã nunca pede mais do que um par de sandálias
A manhã nunca pede
Mais do que um par de sandálias;
Mas a noite de véspera
Conserva os seus collants.
Não me espanta o mau gosto
Com que a vida se veste,
Se as manhãs e as noites
Morrem longe de ti.
É só ao fim da tarde
Que te surjo descalça.
Só então autorizas
O meu número de circo:
Ajoelhar a boca
No centro do teu corpo,
Regular com os lábios
A chama de uma vela.
O teu sentido prático
Há-se impor-te o confronto
Dos nossos dois horóscopos.
Por agora entretens-te
A ver, no Universo,
Uma cópia indecisa
Dos vários hemisférios
Que existem no meu corpo.
Somas os meus orgasmos
Para teres a certeza
De que um quarto de século
Entre nós não é nada.
Eu recolho o teu sémen
Como quem executa
A prova irrefutável
De que só me pertences.
Outros números no circo
Do suave ludíbrio:
A 10 metros quadrados
Reduzirmos o mundo,
Dizermos até logo
Sabendo que um telefone
Não vai servir de nada
Na falta que me fazes.
Descansa que não quero roubar-te
Aos teus deveres;
Muito menos dar cabo
Do que se chama um lar.
Só te peço que tragas
Veneza para perto
Desta fome que tenho
De ser a tua gôndola.
De ser a tua gôndola
Não só ao fim da tarde,
Mas lá de quando em quando
Também durante a noite.
Então acordaria
Realmente descalça
Sem mais sentir nas pernas
A sombra de uns collants.
Deste modo é que não.
Apetece dizer-te
Que oxalá cometesses
Pelo menos um crime,
Que antes me estrangulasses
Em lugar de abraçar-me,
Que é talvez uma fraude
Chamarmos Verão a isto.
David Mourão Ferreira, “Um Amor feliz”
Mais do que um par de sandálias;
Mas a noite de véspera
Conserva os seus collants.
Não me espanta o mau gosto
Com que a vida se veste,
Se as manhãs e as noites
Morrem longe de ti.
É só ao fim da tarde
Que te surjo descalça.
Só então autorizas
O meu número de circo:
Ajoelhar a boca
No centro do teu corpo,
Regular com os lábios
A chama de uma vela.
O teu sentido prático
Há-se impor-te o confronto
Dos nossos dois horóscopos.
Por agora entretens-te
A ver, no Universo,
Uma cópia indecisa
Dos vários hemisférios
Que existem no meu corpo.
Somas os meus orgasmos
Para teres a certeza
De que um quarto de século
Entre nós não é nada.
Eu recolho o teu sémen
Como quem executa
A prova irrefutável
De que só me pertences.
Outros números no circo
Do suave ludíbrio:
A 10 metros quadrados
Reduzirmos o mundo,
Dizermos até logo
Sabendo que um telefone
Não vai servir de nada
Na falta que me fazes.
Descansa que não quero roubar-te
Aos teus deveres;
Muito menos dar cabo
Do que se chama um lar.
Só te peço que tragas
Veneza para perto
Desta fome que tenho
De ser a tua gôndola.
De ser a tua gôndola
Não só ao fim da tarde,
Mas lá de quando em quando
Também durante a noite.
Então acordaria
Realmente descalça
Sem mais sentir nas pernas
A sombra de uns collants.
Deste modo é que não.
Apetece dizer-te
Que oxalá cometesses
Pelo menos um crime,
Que antes me estrangulasses
Em lugar de abraçar-me,
Que é talvez uma fraude
Chamarmos Verão a isto.
David Mourão Ferreira, “Um Amor feliz”