sexta-feira, dezembro 28, 2007
sexta-feira, dezembro 21, 2007
Falavam-me de Amor
Quando um ramo de doze badaladas
se espalhava nos móveis e tu vinhas
solstício de mel pelas escadas
de um sentimento com nozes e com pinhas,
menino eras de lenha e crepitavas
porque do fogo o nome antigo tinhas
e em sua eternidade colocavas
o que a infância pedia às andorinhas.
Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias
e eras um sol na sombra flagelado.
O fel que por nós bebes te liberta
e no manso Natal que te conserta
só tu ficaste a ti acostumado.
Natália Correia, "O Dilúvio e a Pomba", Lisboa, Publicações D. Quixote, 1979
segunda-feira, dezembro 10, 2007
Diriam de Nós
Diriam de nós que seríamos felizes para sempre.
Isso dizem como se fosse segredo. Mas
por vezes apetece ceder ao rumor
incessante do mar, a essas vozes,
ao que fica momentaneamente suspenso do fio das roseiras.
Diriam de nós, ao verem-nos adormecer, que estamos
felizes para sempre. Mas quase não se vê essa luz intensa
nem os instantes que demorámos, eu e tu, e assim pela
primeira vez te chamo meu amor, a trocar os dedos entre nós.
A água volta à água no seu movimento inicial, o Inverno vai regressar,
isso dizem também olhando o que de outro modo olhámos.
Diriam que seremos felizes para sempre, enquanto dizem.
Francisco José Viegas, “Todas as coisas”
* Foto de Circus Spider