quarta-feira, agosto 10, 2011

Um silêncio comum ás violetas



Há noites que são feitas dos meus braços
e um silêncio comum às violetas
e há sete luas que são sete traços
de sete noites que nunca foram feitas
Há noites que levamos à cintura
como um cinto de grandes borboletas.
E um risco a sangue na nossa carne escura
duma espada à bainha de um cometa.
Há noites que nos deixam para trás
enrolados no nosso desencanto
e cisnes brancos que só são iguais
à mais longínqua onda de seu canto.
Há noites que nos levam para onde
o fantasma de nós fica mais perto:
e é sempre a nossa voz que nos responde
e só o nosso nome estava certo.

Natália Correia



* Foto retirada da Internet


quinta-feira, agosto 04, 2011

Aeroplano

Eles amputaram
As tuas coxas das minhas ancas.
Tanto quanto sei
São todos cirurgiões. Todos eles.


Eles desmantelaram-nos
Um ao outro.
Tanto quanto sei
São todos engenheiros. Todos eles.
Que pena. Éramos uma invenção
Tão boa e amável.
Um aeroplano feito de um homem e de uma mulher.
Com asas e tudo.
Pairávamos ligeiramente por cima da terra.
Até voávamos um pouco.


Yehuda Amichai


* Foto retirada da internet