segunda-feira, janeiro 16, 2012

Uma coisa estranha

O Sol batia-me nos olhos e aquecia-me a cara. Era Inverno, mas o tempo estava ameno, agradável. Cruzei-me com pessoas na rua, pessoas cinzentas e de andar apressado, mas não olhei para
nenhuma. Pelo menos não com atenção. Os meus pensamentos fogem, inevitavelmente, para ti. A tua imagem colada á minha retina, o teu cheiro nas minhas narinas, as tuas mãos em movimento frenético. Sorrio. Percorro as ruas a rir-me sozinha. Que parvoíce. O teu nome ecoa-me no cérebro vezes sem conta. Por vezes chega a tornar-se ensurdecedor. Lembro-me da temperatura do teu corpo. As tuas mãos quentes, a tua face tépida. O corpo todo incendiado. Neste momento, desço a rua a gargalhar alto. Uma senhora que passa ao meu lado, olha para mim de soslaio… deve estar a pensar que sou doida! E talvez esteja mesmo a perder o juízo. Penso na inevitabilidade de certos momentos. Na forma absurda e genial como são irrepetíveis, únicos, sublimes. Penso como nos ficam colados á pele durante muito tempo, como perduram mesmo depois de já se terem dissipado há muito, mesmo depois de já não existirem nas memórias. Olho á minha volta. A rua está deserta naquele momento e eu volto a rir-me de mim própria. Que parva, nem sequer consigo dar dois passos sem me lembrar das coisas que me disseste,da cor dos teus olhos sob a luz brilhante, do teu cabelo liso e macio. O
desenho dos teus lábios persegue-me, enquanto caminho nesta avenida de Lisboa. Imagens de ti assaltam-me, incessantemente, sem que eu tenha qualquer tipo de controlo sobre elas. Estranha esta sensação agradável que me percorre o corpo sempre que me lembro de ti. Estranho este riso espontâneo que me chega á boca, de cada vez
que ouço a tua voz em “repeat” na minha cabeça. Improváveis os caminhos que
escolho hoje para chegar a casa. Volto a sorrir sozinha. Ainda me faltam muitas ruas.

terça-feira, janeiro 03, 2012

Inverno


Aprecio o silêncio.
Gosto do tempo mudo que vai das palavras á tua boca.
do espaço branco da espera entre os teus dedos.
do Amor no vazio de sons e móveis, perdido na inércia dos dias
E na tua indiferença.
Gosto dos fins de tarde.
Da luz que morre lentamente nos teus cabelos para nascer renovada nos teus olhos.
Dos movimentos felinos do teu corpo beijando a noite.
Gosto do peso das tuas mãos.
Da brandura cortante dos teus abraços lunares, da tua solidão inquieta.
Gosto do teu regresso.
De te esperar banhada na sombra.
Gosto do frio que me faz ser Inverno enquanto não chegas