Abismo
Às vezes não se morre logo.
Às vezes estás à beira do precipício, um pé a resvalar para o abismo,
o corpo a cambalear no vazio, a pele gelada no escuro
Mas não morres logo.
Dás um passo atrás, voltas as costas à escuridão, refugias-te num lugar seguro.
Não se morre logo. Não se morre nesse segundo. Mas continuas a morrer no tempo que se segue. Todos os dias um pouco.
Todas as noites um grito.
Todas as manhãs um suspiro.
Às vezes ficamos vivos no sofrimento, na perda, na solidão.
Às vezes a morte é um silêncio de alívio.
As vezes a vida é uma sombra atrás da porta.
A dor é sempre convicta.
Mas nunca se morre logo.
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© Rute M. Gonçalves, 2021
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