terça-feira, abril 29, 2008

Estou mais perto de ti


Estou mais perto de ti porque te amo.
Os meus beijos nascem já na tua boca.
Não poderei escrever teu nome com palavras.
Tu estás em toda a parte e enlouqueces-me.
Canto os teus olhos mas não sei do teu rosto.
Quero a tua boca aberta em minha boca.
E amo-te como se nunca tivesse amado
porque tu estás em mim mas ausente de mim.
Nesta noite sei apenas dos teus gestos
e procuro o teu corpo para além dos meus dedos.
Trago as mãos distantes do teu peito.
Sim, tu estás em toda a parte.
Em toda a parte.Tão por dentro de mim.
Tão ausente de mim.
E eu estou perto de ti porque te amo.

Joaquim Pessoa

* Foto de Borlabulabarbula

segunda-feira, abril 28, 2008

Conheço o Sal

Conheço o sal da tua pele seca
depois que o estio se volveu Inverno
da carne repousando em suor nocturno.

Conheço o sal do leite que bebemos
quando das bocas se estreitavam lábios
e o coração no sexo palpitava.

Conheço o sal dos teus cabelos negros
ou louros ou cinzentos que se enrolam
neste dormir de brilhos azulados.

Conheço o sal que resta em minha mãos
como nas praias o perfume fica
quando a maré desceu e se retrai.

Conheço o sal da tua boca, o sal
da tua língua, o sal de teus mamilos,
e o da cintura se encurvando de ancas.

A todo o sal conheço que é só teu,
ou é de mim em ti, ou é de ti em mim,
um cristalino pó de amantes enlaçados.

Jorge de Senna
* Foto de Iina_Chan

quinta-feira, abril 17, 2008

Tail One


Once upon a time there was a poor widow
with 6 children to care & provide for
one day a friendly giant took pitty on her
and told her he would took after her & her family
The years passed and nobody heard the screams, nobody heard the cries,
Nobody heard the weeping, of the small child
She was a liar, a thief, a teller of tales, so nobody would believe her
The years passed and the widow lost her sight
The courts decided he wasn’t such a gentle giant, after all.

“Almost the same”, Julia Bardsley

* Foto de Felinocurioso37

quarta-feira, abril 02, 2008

O meu silêncio

O silêncio cresce em mim.
A cada dia, ocupa um espaço maior no meu interior,
alastra como uma nódoa de azeite numa camisa nova.

Estou há tanto tempo calada, que começo a habituar-me ao silêncio,
á sua companhia inóspita, ao seu hálito húmido de cave.
Começo a esquecer algumas palavras,
custa-me reproduzi-las.

O meu silêncio é gigante, cinzento e pesado,
um muro intransponível de cimento, que posso ver,
respirar e tocar, como se estivesse num concerto de Natal numa Igreja
repleta de gente que (apenas) escuta.

Olho-me ao espelho e apenas vejo silêncio.
Os meus olhos em silêncio, as mãos e o corpo todo em silêncio.
Apenas uma sombra silenciosa.
Muda. Sem voz.

Dentro de pouco tempo, não terei mais nada para dizer.
* Foto de Po_Sol_Ona