segunda-feira, maio 26, 2008

O corpo doído ou doido


Apenas isto: um parágrafo ainda
antes das águas se apagarem.
É tudo quanto peço,
a mão cheia de vespas,
o corpo doído ou doido.
Um parágrafo que engane a noite,
uma ilha, um trópico onde arder,
a latitude do teu ventre,
para onde todo o corpo flui.
Apenas isto – um parágrafo mais,
e contigo irei, Ítaca minha,
navegando uma estrela noite dentro.

João de Mancelos, “Línguas de Fogo”, 2001


* Foto retirada da Internet

sexta-feira, maio 23, 2008

A lírica minima do Amor


É raro, o amor,
como pirilampos ou chuvas
em tectos de Verão.
É a secura última
No gosto das amoras,
É um tremente olhar
À sombra de outro olhar.
E mais insustentável será
Um lago que se agita nas mãos
E sabe a lume de criança.
E o amor és tu.
E há quem rumo à noite
De ti se baste e sonhe
Até à fundura da solidão.
É raro, o amor. É
Apenas esse nome teu
Que em meus lábios floresce.

João de Mancelos, “A Oeste deste Céu”, 1993
* Foto de Connie Imboden

quinta-feira, maio 15, 2008

Verde


Reencontrei-me hoje com o que já tinha esquecido.
Vi os teus contornos na sombra, e quando me olhaste, a luz inundou-me.
Os teus olhos são como gigantes, feitos de cristal verde,
profundos, quentes e brilhantes como o Sol ao meio-dia.

Disseste o meu nome com o coração á flor da pele. Eu gostei.
A tua voz encheu o silêncio da noite.
Quis perder-me nessa luz verde, sonhar que somos um do outro.

* Foto retirada da Internet

terça-feira, maio 13, 2008

Amor


Sentaste-te a meu lado. Era Verão, um vento estonteante agitava as folhas secas.
Perguntei-te: "Amas-me?". E tu disseste: "Sabes bem que o amor não é uma resposta".

Ana Marques Gastão, “Lápis Mínimo”


* Foto retirada da Internet