Conselhos da Avó

A minha Avó costumava dar-me conselhos de como eu me poderia tornar uma mulher mais bonita. Fazia-lhe alguma confusão a minha juventude pouco enfeitada, desprovida de saias, cores garridas e acessórios. Dizia-me muitas vezes que era impensável uma rapariga nova como eu andar sempre vestida de preto e sempre enfiada numas calças de ganga. Ela nasceu no princípio do século XX e, nesse tempo, as mulheres queriam-se cheias de vida e enfeites, brincos e colares de pérolas e saias bonitas (mas decentes). Eu saía totalmente fora desse ideal feminino, e ela aconselhou-me muitas e muitas vezes sobre como devia usar saias não muito justas para valorizar as minhas pernas compridas mas não marcar demasiadamente a forma redonda das ancas, de como devia usar brincos compridos para me compor o rosto oval ou como devia por um colar que me acentuasse o pescoço esguio. Desafiava-me a usar roupas de cores vivas, porque isso me realçava a tez morena e a comprar soutiens que me arrebitassem o peito pequeno. E queria que eu sorrisse mais. Afirmava que não existia melhor virtude numa mulher do que um belo e franco sorriso. Morreu aos 98 anos de idade e eu nunca a ouvi verdadeiramente. Penso que nunca prestei atenção devida aos seus sábios conselhos. Mas devia. Sei-o hoje.