Dias Perfeitos
Tens o coração pegajoso
envolto em papel de embrulho
e a boca sedenta
dos beijos que imaginaste
Nas noites frias
Tens as mãos trémulas
algemadas com fios de prata
e o corpo perdido
em convulsões febris
Nos dias intermináveis
Tens o Amor contagiante
á solta na ponta dos dedos
e a Alma fugitiva
em voos longíquos
Nas tardes de Verão
Tens os braços à minha volta
num abraço eterno
e os teus lábios curiosos
presos à minha boca húmida
Nos dias perfeitos
Strange but True
Ok let me say this quickbefore I start to cry you're the only one that I gave it to,the one I fantasized forand time away from you has taught mewhat I've should have known - that this hole I'm trying to fill with another It's grownAnd I got your package,but when I tried to write you back I bailedsee, trying to express the future,sometimes language failsand over this time I've learnedmy life force is increased by knowing you.Every door that closes, another one opensSad but true.PRINCE, "Rave unto the Joy fantastic", 1999
Jammaica Inn
Can you patch my jeans Peggy Ann –just a little stitch to mend the holehe has torn if you canMaybe I got too set in my wayshe says she reminds him of me when we first met in those early days…The sexiest thing is trustI wake up to find the pirates have cometying up along your coast how was I to know the pirates have comebetween Rebecca’s beneath your firmaments I have worshipped in the Jamaica Inn With the gales my little boat was tossedhow was I to know that you’d sent her with a lantern to bring me in“Are you positive this is a friend?”The captain grimaced,“Those are cliffs of rock aheadif I’m not mistaken.”
Tori Amos, “The Beekeeper”, 2004
Íntimo
Choram as paredes
porque nos conhecem
Também
quem além delas
sabe o peso
e a cor dos nossos olhos
Tanto o escuro
e a distância
José Vultos Sequeira, “A Cor dos Olhos”* Foto de Longing 4 what used to be
Nem sempre o corpo se parece
Nem sempre o corpo se parece com um bosque, nem sempre o sol atravessa o vidro, ou um melro cante na neve. Há um modo de olhar vindo do deserto, mirrado sopro de folhas, de lábios, digo. Eugénio de Andrade, "O peso da sombra"
A Invisibilidade de Deus
Dizem que em sua boca se realiza a flor,outros afirmam: a sua invisibilidade é aparente.Mas nunca toquei Deus nesta escama de peixe,onde podemos compreender todos os oceanos.Nunca tive a visão de sua bondosa mão.O certo é que por vezes morremos magros até ao osso sem amparo e sem Deus,apenas um rosto muito belo surge etéreo na vasta insónia que nos isolou do mundoe sorri dizendo que nos amou algumas vezes.Mas não é o rosto de Deus nem o teu nem aquele outro que durante anos permaneceu ausentee o tempo revelou não ser o meuAl-Berto, "O Medo"* Foto de Tom for president
Horroris Causa
No fim doce da noite.
No limite familiar da
próxima dor –
Seremos doutorados
Horroris causa.
Pelo fogo – no caos.
Pela chuva – na mentira.
Os nosso curriculuns mortiis
serão enviados
em envelopes amaldiçoados.
Em todas as casas seremos
sementes e armadilhas de cristal.
Entretendo famílias inteiras
em refeições de carne vermelha,
em provas de vinhos malditos.
Com fome e sede
do Mal.
Fernando Ribeiro “Como escavar um Abismo”* Desenho de Luis Royo
We held hands on the last night on earth
"We held hands on the last night on earth. Our mouths filled with dust, we kissed in the fields and under trees, screaming like dogs, bleeding dark into the leaves.
It was empty on the edge of town but we knew everyone floated along the bottom of the river. So we walked through the waste where the road curved into the sea and the shattered seasons lay, and the bitter smell of burning was on you like a disease.
In our cancer of passion you said: “Death is a midnight runner”.
The sky had come crashing down like the news of an intimate suicide. We picked up the shards and formed them into shapes of stars that wore like an antique wedding dress. The echoes of the past broke the hearts of the unborn as the ferris wheel silently slowed to a stop. The few insects skittered away in hopes of a better pastime.
I kissed you at the apex of the maelstrom and asked if you would accompany me in a quick fall but you made me realise that my ticket wasn’t good for two. I rode alone. You said: “The cinders are falling like snow”.
There is poetry in despair, and we sang with unrivalled beauty, bitter elegies of savagery and eloquence. Of blue and grey.
Strange, we ran down desperate streets and carved our names in the flesh of the city. The sun has stagnated somewhere beyond the rim of the horizon and the darkness is a mystery of curves and lines.
Still, we lay under the emptiness and drifted slowly outward, and somewhere in the wilderness we found salvation scratched into the earth like a message".
A Fire Inside (AFI), “Sing the Sorrow”
Quando me tocas
Quando me falas
Nem sempre respondo,
nem sempre encontro as palavras certas,
aquelas que te quis dizer desde sempre.
Por vezes já não tenho voz,
Porque a perdi no cansaço.
Quando me olhas
Nem sempre te entendo,
Nem sempre te mostro a verdade,
Aquela que tenho vontade que saibas.
Por vezes não tenho Alma,
Porque já se gastou em lágrimas.
Quando me procuras
Nem sempre acredito,
Quase sempre tenho medo que tudo não passe de um sonho,
E que amanhã tudo seja diferente.
Por vezes já não tenho esperança
Porque estou confusa.
Quando me tocas
Nem sempre retribuo,
Nunca procuro a tua boca nem as tuas mãos,
Como é sempre meu desejo.
Por vezes não tenho corpo
Porque tu não me sentes.
Por vezes falta-me o tempo que é preciso
Para te esquecer.
(Ao C.)* Foto de Gwarf
Vulnerável
Vejo-te hoje de forma diferente, sem máscara
E com as mãos vulneráveis.
Sinto hoje a tua fragilidade na minha pele, respiro com dificuldade
Nos momentos em que perdes a força.
Hoje tens o coração exposto e lágrimas nos olhos, como todos os homens.
Esta noite, enquanto te observo os movimentos grandiosos e escuto os teus gritos,
Sou mais uma vez aquela criança de há muitos anos, amando-te em segredo,
Deslumbrada com a visão perfeita.(Ao F.)* Desenho de CorruptJelly